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DIÁRIO DE COIMBRA | 23 DE MAIO DE 2023

Pedro Baptista, Treinador do Chelo conduziu a equipa ao bicampeonato da Divisão de Honra AFC de Futsal e pretende agora recolocar o emblema no Campeonato Nacional da 3ª Divisão. Ter mais atletas e equipas na formação é outra meta.

Diário de Coimbra: O Chelo conquistou há um ano a Divisão de Honra AFC pela primeira vez. Agora, repetiu o feito…

Pedro Baptista: Sim, o ano passado ficou uma mágoa muito grande porque ganhámos tudo e não podíamos almejar a subida aos nacionais, por culpa própria, uma vez que não tínhamos formação e, por isso, foi uma época um bocadinho atípica. Para este ano, ficou a esperança de o conseguirmos. Sabíamos que ia ser difícil, as equipas que iam lutar connosco tinham-se reforçado bastante, mas tínhamos a ambição e a vontade de conseguir o inédito bicampeonato e, mais do que isso, ter a hipótese de conseguir lutar pela subida aos campeonatos nacionais, que era o objetivo na temporada anterior. Foi muito por aí que construímos a equipa e que começámos a trabalhar para conseguir esse objetivo.

O facto de em 2021/2022 não terem podido lutar pela subida aos nacionais deu-vos mais força para este ano?

Sim, porque acho que, a partir do momento em que conseguimos manter o plantel todo e ainda ir buscar mais alguns elementos que já conheciam o clube, já sabiam como é que trabalhávamos e como era o
grupo, que é o mais importante, sentimos que, embora soubéssemos que ia ser difícil, que tínhamos hipóteses de conseguir. Ao longo da época fomos tendo pequenos exemplos de que tínhamos qualidade e que podíamos lutar com qualquer equipa, como sucedeu na Taça de Portugal, que nos deu uma noção da realidade e mais maturidade e experiência, porque temos uma equipa muito jovem – são quase tudo miúdos que saíram da formação há dois, três anos – e batemo-nos bem contra equipas que estão nos nacionais e que têm outro andamento.

A derrota com o Vilaverdense, em casa, na 2.ª jornada da fase de Apuramento de Campeão, fê-lo duvidar de que o título distrital podia escapar?

Esse jogo com o Vilaverdense foi complicado. Chegámos a esse encontro da 2.ª jornada ainda sem nenhum jogo disputado, porque o primeiro desafio com a Granja do Ulmeiro foi adiado. Ou seja, chegámos a esse jogo sem qualquer ponto e o Vilaverdense com três e podíamos ficar a seis. Fizemos uma primeira parte aquém. Estávamos a perder ao intervalo 3-1, mas senti no balneário que a equipa acreditava que era possível ganhar. Na segunda metade, virámos o resultado para 4-3 a nosso favor, só que depois tivemos infelicidade em dois momentos e acabámos por perder 5-4. Ficou um sentimento de frustração, mas não me vou esquecer daquilo que um jogador meu me disse no final desse jogo: «Não te preocupes. Vamos ser campeões. Não vamos perder mais nenhum jogo». Aquilo marcoume de alguma maneira. Foi ele que expressou aquele sentimento, mas todo o grupo sentia isso. E a partir daí, apesar de
termo jogado sempre pressionados porque não havia margem de erro, ganhámos os jogos todos.

Este bicampeonato é reflexo de quê?

É o culminar de um esforço de muitos meses de um grupo muito comprometido, que nunca virou a cara à luta. É o celebrar também da amizade, do companheirismo e é também uma prenda para os nossos pequeninos que este ano resolveram aceitar este projeto. Estamos muito felizes de os ter connosco. Queremos ter a oportunidade de lutar pela subida de divisão.


Uma das vitórias desta temporada foi conseguir ter mais atletas, juntar gente da terra que sentisse a terra.
É muito gratificante para um concelho tão pequeno como Penacova e para uma aldeia tão pequena como o Chelo ter um clube a disputar as provas nacionais.

PEDRO BAPTISTA

Havia a necessidade de ter uma formação mais alargada para que os seniores possam chegar aos nacionais. Mas foi apenas isso que vos moveu para apostarem na formação?

Não. O objetivo, além de querer chegar aos nacionais com os seniores, é criar uma base competitiva e que nos dê um “alimento” aos seniores como temos agora, que nos permita ser uma referência no concelho, no qual os jovens se sintam integrados e seja uma mais valia para eles. Este ano, o único escalão que conseguimos criar foi o dos infantis, que era uma aposta minha, um escalão de base, e depois ter um escalão de competição, os juniores, que permitisse utilizar jogadores nos seniores. Foi muito por aí. A partir de agora, é tentar angariar mais atletas e ter mais escalões. Uma das vitórias desta temporada foi conseguir ter mais atletas, juntar gente da terra que sentisse a terra, para que eles sintam que o clube é deles e que podemos construir coisas bonitas.

Vem aí a Taça Nacional. Subir ao Nacional da 3.ª Divisão é mesmo o objetivo?

Sim, desde o início da época que é esse o nosso objetivo. Vamos participar num grupo com mais três campeões dos seus distritos, julgo que todas as equipas vão querer subir. É uma prova em que
a margem de erro é mínima. O nosso objetivo está delineado desde o início. Cumprimos o que era o “passaporte” para chegar à Taça Nacional e agora serão mais seis jogos de intensidade altíssima. Temos de ser muito competentes e trabalhar bastante nos detalhes. Vai ser uma prova complicada, exigente, mas acredito que tenho um plantel à altura. Subir à 3.ª Divisão é o nosso objetivo. Queremos voltar a
colocar o clube nas provas nacionais. É muito gratificante para um concelho tão pequeno como Penacova e para uma aldeia tão pequena como o Chelo ter um clube a disputar as provas nacionais. Queremos subir ao Nacional e ficar por lá alguns anos.

Já conhece os adversários?

Sim. O Ladoeiro (campeão da AF Castelo Branco) é uma equipa mais jovem, mas com muita qualidade,
com alguns jogadores que não são portugueses. O Sabugal (campeão da AF Guarda) é também uma equipa jovem, que integra muitos juniores e que competiram bastante bem no campeonato distrital. É complicada pela intensidade que coloca no jogo. O Gaeirense (campeão da AF Leiria) desceu dos nacionais na época passada, uma equipa rotinada, com muita qualidade. Vão ser mais seis “finais” que esperamos que nos detalhes caiam para nós e que daqui a um mês e meio estejamos a festejar a subida à 3.ª Divisão.

E ainda há Supertaça AFC frente ao Vilaverdense que, por certo, vão querer vencer novamente…

Sim. Gostamos de estar nas decisões, de lutar por títulos. Falhámos na Taça AFC que era um objetivo, mas conseguimos o campeonato. Agora, temos a Taça Nacional na qual está o nosso foco total. E depois quando for marcada a Supertaça, lá estaremos para fazer o melhor possível e tentar ganhar mais um troféu.

“ Sentimos mais as coisas porque estamos com os nossos ” – Pedro Baptista

Sendo um treinador ainda novo (27 anos), é difícil impor a liderança perante os atletas mais velhos?

Já éramos amigos antes de haver a relação treinador atleta. Essa relação de amizade mantém-se. Nos treinos e nos jogos houve sempre respeito e a minha liderança nunca esteve em causa. Mas tenho uma liderança partilhada. Por
exemplo, muitas vezes, a abordagem ao jogo é decidida
por eles, eu dou algumas soluções, eles escolhem a mais vantajosa, porque são eles que jogam. Os jogadores mais velhos vejo-os como um apoio, alguém que me pode ajudar, são adjuntos dentro do campo. Não tenho nenhum problema com isso, acho que ganhamos todos. Tem corrido
bem.

É difícil ser treinado por si?
(risos) Acho que sim. Sou um bocadinho intempestivo às
vezes, gosto de trabalhar as coisas ao pormenor e sou muito exigente com eles. Muitas das vezes acabo por colocá-los em situações complicadas porque quero sempre mais. Mas eles já conhecem a minha personalidade e não tenho problema nenhum, no meio ou no fim do jogo, de
lhes pedir desculpa por alguma atitude menos correta
que possa ter tido. 

Sendo natural do concelho de Penacova dá um gozo especial treinar um clube do mesmo concelho?

Sim. Sentimos mais as coisas porque estamos com os nossos. Olhamos para dentro do campo e são os que cresceram connosco, olhamos para a bancada e são os pais, a família, os amigos. E, parecendo que não, sendo um conterrâneo tem um gosto especial porque além de estar a fazer crescer uma equipa, estou a fazer crescer o meu concelho. É muito por aí que lutamos. No plantel dos seniores temos 17 atletas e apenas quatro não são do concelho de Penacova. Isso diz muito da maneira como lidamos com as coisas. Estamos a lutar pela nossa felicidade pessoal e coletiva, mas também por algo que é nosso e que fomos habituados a gostar já desde pequenos.

É melhor treinador do que foi jogador?

De certeza absoluta. A pandemia trouxe um bocadinho a necessidade de repensar os objetivos. Na altura já tinha decidido que, à partida, ia deixar de jogar, já não tinha o mesmo prazer de treinar. Como treinador, obriga-me a ver o jogo de maneira diferente, mas também o facto de ter sido jogador permite-me também gerir o grupo e as opções de forma diferente, porque já senti na pele o que é ficar de fora.

Qual é o sonho por concretizar?

Subir de divisão e criar mais um escalão de formação para o ano.

RICARDO SANTOS (DIÁRIO DE COIMBRA)

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